Qual a cor da baleia?
Independente da cor
da baleia, é terrível o que está acontecendo. Desde post de alertas, que para
mim mais atraem jovens para esse jogo, até homens e mulheres adultos fazendo
piada da situação.
Daí eu pergunto?
Você tem filhos, sobrinhos ou netos pequenos?
Hoje vivemos um
total desrespeito com a dor do outro.
As pessoas insistem
em não cuidar da trave no seu olho porque precisam sacanear o desvio alheio.
Nossa sociedade
está adoecendo, “emburrecendo” e ninguém faz nada. Como é isso?
Quando me tornei
estudante universitária, falávamos da Inteligência Emocional. Hoje falamos de Neurociência,
Montessori, Waldorf, Disciplina Positiva, Ecopedagogia, Desescolarização e
muitas outras abordagens. Para quê? Modismo ou estamos realmente preocupados?
No passado o grande
problema na sociedade era a dependência química, o vício em drogas, e foram
anos e anos, atendendo jovens e seus familiares em meu consultório particular e
na Comunidade Terapêutica que trabalhei em Ipatinga/MG. Vi muitos jovens se
recuperando, como vi pré-adolescentes sendo usados como aviões e mortos quando
saiam dos centros de recuperação para não delatar ninguém.
Hoje vejo que as
famílias ainda sofrem com as drogas. Entretanto, antes as drogas eram uma
curtição, hoje vejo jovens e famílias aceitando as drogas por melhor estilo de
vida.
Essa semana ouvi um
pai falando, você acha que meu filho vai querer sair das drogas, onde ele pode
ter um tênis de marca que custa mil reais e trabalhar numa empresa para ganhar
salário mínimo?
O que responder? Eu
nunca respondo, eu pergunto:
a)
Qual é o seu valor?
b)
Qual é a moeda que te compra?
c)
Qual principal valor você quer que impere na sua casa?
d)
O que é importante
para você hoje?
e)
Qual o legado você pretende deixar para os seus netos?
Acredito que todos
deveriam se perguntar, perguntar, perguntar:
Eu vivo uma vida que faz diferença
positiva na comunidade em que eu moro ou sou mais um daqueles indivíduos que
tento tornar o mundo pior?
Até os pais e mães
que hoje estão viciados numa vida futura melhor, precisam repensar para que
trabalhar tanto, se sua saúde está indo embora e os melhores momentos com sua
família são escassos.
Eu aprendi que a
vida é AQUI AGORA.
Acredito que foi o
melhor ensinamento que eu poderia ter aprendido na minha vida porque amanhã
realmente uma oportunidade.
Eu vi meu irmão de
25 anos morrer por negligência médica, num momento que ele estava comprando sua
casa própria.
Hoje eu vejo meus
sobrinhos viciados em jogos eletrônicos e me pergunto:
_ Porque o que
aprendi de bom com meus pais, não foi também absorvido pelos meus irmãos?
E também acontece
na casa dos meus vizinhos.
Eu não cresci nos
melhores dos ambientes, na minha casa tinha entre sai de todo tipo de gente
porque meu pai era comerciante de pedras preciosas e ia desde o lavrador ao cara
milionário que andava com capangas.
E daí! O que eu via
dentro de casa, era uma mulher que cuidava dos filhos da melhor maneira
possível, sua referência era não faltar comida boa, remédios e boas escolas.
Meu pai acordava as 5:00 sem despertador, trabalhador, um homem incansável.
Minha mãe sempre
apontava o que ela considerava certo e errado e nós tínhamos tarefas em casa. Eu
era a mais velha de 5 irmãos, tinha que desde ensinar o dever de casa, lavar as
fraldas de pano dos meus irmãos menores (que eu odiava, mas fazia) e também
picar legumes para o almoço e varrer o quintal. Domingo era dia da melhor roupa
para ir na igreja agradecer.
Meu pai nos levava
para viajar, ir em restaurantes e também para ajudarmos em seu trabalho.
Com 7 anos eu já sabia
polir pedra, com 9 anos já sabia cozinhar, com 10 anos já fazia compra no
supermercado.
Hoje o que os pais
fazem:
1.
Ao chegar no restaurante dá o celular - NÃO PERTUBE!
2.
Chega em casa liga a
TV – NÃO PERTUBE!
3.
Faz birra no shopping –TE DOU UM PRESENTE SE VOCÊ PARAR ou
SAI PUXANDO PELO BRAÇO.
4.
Não quer comer – COME CHOCOLATE, BISCOITOS.
5.
Ir a missa – SÓ SE FOR CASAMENTOS OU BATIZADOS.
Temos que ensinar
aos nossos filhos o que são hábitos e valores e quais as consequências deles.
Temos que ensinar
aos nossos filhos que se um amigo cai no buraco, ele pode até cair, mas vai dar
mais trabalho do que ele aprender com os erros dos outros.
Hoje falta
intimidade e convivência entre pais e filhos por causa das questões da vida
moderna.
E
quando estão juntos, os pais não conhecem seus filhos, não sabem lidar com eles.
Estão estressados com os seus trabalhos, estão viciados nos seus telefones e
não querem também se submeter à desaprovação social de uma criança que chora ou
se comporta mal. Acaba que esse filho não tem direito de se manifestar de forma
negativa, que faz parte do comportamento infantil. Ele não pode fazer uma
birra, dizer “não”, chorar, explorar seus limites de atuação no mundo. Como os
pais não sabem lidar com essas situações, a criança acaba tendo todos os seus
desejos realizados, não lhe colocam limites, não lhe dizem que ela tem que
lidar com a frustração. A gente quer calar a qualquer custo o mal-estar. Então
para parar com o chilique, a gente acaba cedendo. Ao invés de aprender as
regras de convivência, o filho passa a ser um rei que dita as normas, os
programas, os horários.
Hoje também
superprotegemos nossos filhos. E o que é a superproteção? É impedirmos que as
crianças tenham suas próprias experiências.
A gente está presente
o tempo todo, aquilo que os americanos chamam de “helicopter parent”, pais que
ficam flutuando em torno das crianças fazendo com que elas não tenham a
experiência do mundo, justamente porque os pais se interpõem entre o mundo e a
criança. Elas ficam impedidas de lidar com o risco, com a aventura, com as
relações interpessoais, com os problemas da escola, com a dor, com os
machucados. Se a criança tem um problema com uma outra criança, os pais se
interpõem para resolver a questão, no parque não deixam ela se arriscar a subir
mais alto no trepa-trepa. É claro que ninguém quer que o filho quebre um dedo
ou receba um ponto, mas são experiências da infância. A criança tem que ter a
experiência do risco, do ralado no joelho e da frustração. Outra coisa muito
grave é que para evitar os perigos do mundo, as famílias ficam muito em casa,
se expõem pouco à natureza, as praças e as praias. Os riscos desses lugares
existem e temos que lidar com eles, pois fazem parte da vida.
Eu
tenho um filho de 5 anos e sei como é complicado desaprender a superproteger
porque ligamos os noticiários e só vemos notícias terríveis. Mas, ele mesmo me
diz: _”Mãe, eu não sou mais um bebê”. E eu fico com coração na mão, mais deixo
ele se arriscar de vez em quando e até já deixei passar o dia na casa dos
vizinhos. Fico com coração na mão, mas deixo explorar parques e praças.
Eu
como mãe tenho tentado deixar meu filho crescer e aprender a se virar sozinho em
algumas situações, e ter consciência de suas escolhas.
Mas, a
realidade a nossa volta é assustadora. Vejo outras crianças que comandam suas
casas, não tem hora para dormir, determinam a programação do fim de semana. Criança
que come o chocolate ao invés da comida, que ganha o presente depois de ter se
jogado no chão do shopping. Crianças que mentem para seus pais sobre o colégio
e os pais vão lá tirar satisfações. Pais que não aceitam quando você diz, seu
filho anda batendo nos amiguinhos e você escuta: _ Como vocês são mães maldosas
fazendo isso com meu menino? E as escolas que não chamam os pais para conversar
quando o filho agride a professora por medo da represália.
Meu
Deus! Que geração futura estamos criando com tanta permissividade.
Os
filhos aprendem tantas “coisas”, quando estão longe dos nossos olhares atentos e
no convívio com outras pessoas, mas não dá para criar filho isolado, dentro de
uma redoma.
E o
que fazer? Eu tento acolher meu filho nas suas emoções.
Se
ele está com raiva, eu desço na sua altura e digo para ele “você está com muita
raiva” e tento mostrar de forma teatral o que está acontecendo, para fazê-lo
entender o sentimento que ele está tendo e dar permissão para ele se expressar.
Muitas vezes acontece de ele querer um
brinquedo e eu digo: “você quer esse brinquedo, eu sei que você quer muito, eu
te entendo, mas a mamãe não pode comprar ele agora”. Isso quebra um pouco esse
mecanismo do tudo quero.
Ter
convivência com os nossos filhos, oferecer a eles oportunidades de conversar,
de refeições em família, de sair na rua juntos, brincar nos parques, subir no
trepa-trepa, ralar o joelho no chão, cair da bicicleta, subir numa árvore,
levar um zero, aprender com a frustração. Tudo isso é importante para formar uma
criança mais feliz e um adulto mais íntegro, preparado para conviver com o
outro.
Para aprender a respeitar o outro a primeira coisa que um filho tem que
entender é que ele não é o centro do mundo. Ele é um membro de uma família e
ter relações igualitárias com os outros membros da família vai fazê-lo entender
que vive numa sociedade. Esse é o nosso papel como pais.
Pais,
não podemos fugir da nossa responsabilidade.
Temos
que tirar nossos filhos de casa, temos que ensiná-los a viver, temos que
colocar regras. Ensiná-los a pescar o peixe (lembram dessa metáfora?).
Vamos
aproveitar toda essa onda de baleias e vamos nos comportar como uma Mãe Baleia.
“ Baleias
amamentam. Baleias andam por aí, cortando os mares e conhecendo lugares
legais...
Baleias
tem amigos ... Baleias ... brincam muito. Baleias cantam muito bem. Baleias ...
quase não tem predadores naturais.
Baleias são bem resolvidas...”
Depois
de 20 anos como profissional de psicologia, eu cheguei a constatação que só tem
filhos viciados em alguma coisa, mães infelizes.
É
como se esse filho gritasse silenciosamente, olhe para mim, saia da sua
depressão e vem cuidar de mim.
Já
viu como mãe de dependente químico é solicitada a se mexer.
Olhe
a sua volta e faça algo por sua família.