sexta-feira, 21 de abril de 2017

Qual a cor da baleia?

Independente da cor da baleia, é terrível o que está acontecendo. Desde post de alertas, que para mim mais atraem jovens para esse jogo, até homens e mulheres adultos fazendo piada da situação.

Daí eu pergunto? Você tem filhos, sobrinhos ou netos pequenos?
Hoje vivemos um total desrespeito com a dor do outro.
As pessoas insistem em não cuidar da trave no seu olho porque precisam sacanear o desvio alheio.

Nossa sociedade está adoecendo, “emburrecendo” e ninguém faz nada. Como é isso?

Quando me tornei estudante universitária, falávamos da Inteligência Emocional. Hoje falamos de Neurociência, Montessori, Waldorf, Disciplina Positiva, Ecopedagogia, Desescolarização e muitas outras abordagens. Para quê? Modismo ou estamos realmente preocupados?

No passado o grande problema na sociedade era a dependência química, o vício em drogas, e foram anos e anos, atendendo jovens e seus familiares em meu consultório particular e na Comunidade Terapêutica que trabalhei em Ipatinga/MG. Vi muitos jovens se recuperando, como vi pré-adolescentes sendo usados como aviões e mortos quando saiam dos centros de recuperação para não delatar ninguém.

Hoje vejo que as famílias ainda sofrem com as drogas. Entretanto, antes as drogas eram uma curtição, hoje vejo jovens e famílias aceitando as drogas por melhor estilo de vida.
Essa semana ouvi um pai falando, você acha que meu filho vai querer sair das drogas, onde ele pode ter um tênis de marca que custa mil reais e trabalhar numa empresa para ganhar salário mínimo?

O que responder? Eu nunca respondo, eu pergunto:

a)  Qual é o seu valor?
b)  Qual é a moeda que te compra?
c)   Qual principal valor você quer que impere na sua casa?
d)   O que é importante para você hoje?
e)  Qual o legado você pretende deixar para os seus netos?

Acredito que todos deveriam se perguntar, perguntar, perguntar:

Eu vivo uma vida que faz diferença positiva na comunidade em que eu moro ou sou mais um daqueles indivíduos que tento tornar o mundo pior?

Até os pais e mães que hoje estão viciados numa vida futura melhor, precisam repensar para que trabalhar tanto, se sua saúde está indo embora e os melhores momentos com sua família são escassos.

Eu aprendi que a vida é AQUI AGORA.

Acredito que foi o melhor ensinamento que eu poderia ter aprendido na minha vida porque amanhã realmente uma oportunidade.

Eu vi meu irmão de 25 anos morrer por negligência médica, num momento que ele estava comprando sua casa própria.
Hoje eu vejo meus sobrinhos viciados em jogos eletrônicos e me pergunto:
_ Porque o que aprendi de bom com meus pais, não foi também absorvido pelos meus irmãos?

E também acontece na casa dos meus vizinhos.

Eu não cresci nos melhores dos ambientes, na minha casa tinha entre sai de todo tipo de gente porque meu pai era comerciante de pedras preciosas e ia desde o lavrador ao cara milionário que andava com capangas.

E daí! O que eu via dentro de casa, era uma mulher que cuidava dos filhos da melhor maneira possível, sua referência era não faltar comida boa, remédios e boas escolas. Meu pai acordava as 5:00 sem despertador, trabalhador, um homem incansável.

Minha mãe sempre apontava o que ela considerava certo e errado e nós tínhamos tarefas em casa. Eu era a mais velha de 5 irmãos, tinha que desde ensinar o dever de casa, lavar as fraldas de pano dos meus irmãos menores (que eu odiava, mas fazia) e também picar legumes para o almoço e varrer o quintal. Domingo era dia da melhor roupa para ir na igreja agradecer.

Meu pai nos levava para viajar, ir em restaurantes e também para ajudarmos em seu trabalho.

Com 7 anos eu já sabia polir pedra, com 9 anos já sabia cozinhar, com 10 anos já fazia compra no supermercado.

Hoje o que os pais fazem:

1.   Ao chegar no restaurante dá o celular -  NÃO PERTUBE!
2.    Chega em casa liga a TV – NÃO PERTUBE!
3.   Faz birra no shopping –TE DOU UM PRESENTE SE VOCÊ PARAR ou SAI PUXANDO PELO BRAÇO.
4.   Não quer comer – COME CHOCOLATE, BISCOITOS.
5.   Ir a missa – SÓ SE FOR CASAMENTOS OU BATIZADOS.

Temos que ensinar aos nossos filhos o que são hábitos e valores e quais as consequências deles.

Temos que ensinar aos nossos filhos que se um amigo cai no buraco, ele pode até cair, mas vai dar mais trabalho do que ele aprender com os erros dos outros.

Hoje falta intimidade e convivência entre pais e filhos por causa das questões da vida moderna.

E quando estão juntos, os pais não conhecem seus filhos, não sabem lidar com eles. Estão estressados com os seus trabalhos, estão viciados nos seus telefones e não querem também se submeter à desaprovação social de uma criança que chora ou se comporta mal. Acaba que esse filho não tem direito de se manifestar de forma negativa, que faz parte do comportamento infantil. Ele não pode fazer uma birra, dizer “não”, chorar, explorar seus limites de atuação no mundo. Como os pais não sabem lidar com essas situações, a criança acaba tendo todos os seus desejos realizados, não lhe colocam limites, não lhe dizem que ela tem que lidar com a frustração. A gente quer calar a qualquer custo o mal-estar. Então para parar com o chilique, a gente acaba cedendo. Ao invés de aprender as regras de convivência, o filho passa a ser um rei que dita as normas, os programas, os horários.

Hoje também superprotegemos nossos filhos. E o que é a superproteção? É impedirmos que as crianças tenham suas próprias experiências.


A gente está presente o tempo todo, aquilo que os americanos chamam de “helicopter parent”, pais que ficam flutuando em torno das crianças fazendo com que elas não tenham a experiência do mundo, justamente porque os pais se interpõem entre o mundo e a criança. Elas ficam impedidas de lidar com o risco, com a aventura, com as relações interpessoais, com os problemas da escola, com a dor, com os machucados. Se a criança tem um problema com uma outra criança, os pais se interpõem para resolver a questão, no parque não deixam ela se arriscar a subir mais alto no trepa-trepa. É claro que ninguém quer que o filho quebre um dedo ou receba um ponto, mas são experiências da infância. A criança tem que ter a experiência do risco, do ralado no joelho e da frustração. Outra coisa muito grave é que para evitar os perigos do mundo, as famílias ficam muito em casa, se expõem pouco à natureza, as praças e as praias. Os riscos desses lugares existem e temos que lidar com eles, pois fazem parte da vida.

Eu tenho um filho de 5 anos e sei como é complicado desaprender a superproteger porque ligamos os noticiários e só vemos notícias terríveis. Mas, ele mesmo me diz: _”Mãe, eu não sou mais um bebê”. E eu fico com coração na mão, mais deixo ele se arriscar de vez em quando e até já deixei passar o dia na casa dos vizinhos. Fico com coração na mão, mas deixo explorar parques e praças.


Eu como mãe tenho tentado deixar meu filho crescer e aprender a se virar sozinho em algumas situações, e ter consciência de suas escolhas.

Mas, a realidade a nossa volta é assustadora. Vejo outras crianças que comandam suas casas, não tem hora para dormir, determinam a programação do fim de semana. Criança que come o chocolate ao invés da comida, que ganha o presente depois de ter se jogado no chão do shopping. Crianças que mentem para seus pais sobre o colégio e os pais vão lá tirar satisfações. Pais que não aceitam quando você diz, seu filho anda batendo nos amiguinhos e você escuta: _ Como vocês são mães maldosas fazendo isso com meu menino? E as escolas que não chamam os pais para conversar quando o filho agride a professora por medo da represália.

Meu Deus! Que geração futura estamos criando com tanta permissividade.

Os filhos aprendem tantas “coisas”, quando estão longe dos nossos olhares atentos e no convívio com outras pessoas, mas não dá para criar filho isolado, dentro de uma redoma.

E o que fazer? Eu tento acolher meu filho nas suas emoções.

Se ele está com raiva, eu desço na sua altura e digo para ele “você está com muita raiva” e tento mostrar de forma teatral o que está acontecendo, para fazê-lo entender o sentimento que ele está tendo e dar permissão para ele se expressar.

 Muitas vezes acontece de ele querer um brinquedo e eu digo: “você quer esse brinquedo, eu sei que você quer muito, eu te entendo, mas a mamãe não pode comprar ele agora”. Isso quebra um pouco esse mecanismo do tudo quero.

Ter convivência com os nossos filhos, oferecer a eles oportunidades de conversar, de refeições em família, de sair na rua juntos, brincar nos parques, subir no trepa-trepa, ralar o joelho no chão, cair da bicicleta, subir numa árvore, levar um zero, aprender com a frustração. Tudo isso é importante para formar uma criança mais feliz e um adulto mais íntegro, preparado para conviver com o outro.




Para aprender a respeitar o outro a primeira coisa que um filho tem que entender é que ele não é o centro do mundo. Ele é um membro de uma família e ter relações igualitárias com os outros membros da família vai fazê-lo entender que vive numa sociedade. Esse é o nosso papel como pais.

Pais, não podemos fugir da nossa responsabilidade.

Temos que tirar nossos filhos de casa, temos que ensiná-los a viver, temos que colocar regras. Ensiná-los a pescar o peixe (lembram dessa metáfora?).

Vamos aproveitar toda essa onda de baleias e vamos nos comportar como uma Mãe Baleia.


“ Baleias amamentam. Baleias andam por aí, cortando os mares e conhecendo lugares legais...
Baleias tem amigos ... Baleias ... brincam muito. Baleias cantam muito bem. Baleias ... quase não tem predadores naturais.
Baleias são bem resolvidas...”

Depois de 20 anos como profissional de psicologia, eu cheguei a constatação que só tem filhos viciados em alguma coisa, mães infelizes.

É como se esse filho gritasse silenciosamente, olhe para mim, saia da sua depressão e vem cuidar de mim.

Já viu como mãe de dependente químico é solicitada a se mexer.

Olhe a sua volta e faça algo por sua família.