1 ano de Mamãe Levada
Um ano que abri
as portas da minha casa para crianças que nunca tinha visto antes…”é estranho”
alguns dizem, “você é louca”, “dá tanto trabalho só você mesmo”.
Vou voltar ao
passado ...eu sou mineira, cresci brincando na rua... era permitido.
As pessoas olhavam em volta, via as pessoas,
enxergavam as crianças brincando na rua, não que nunca tivesse tido um
acidente...tenho memórias de chegar da escola e um carro ter varrido asfalto
afora o irmão do meu colega. Só que isso não nos paralisou, fez só que tivéssemos
mais cuidado ao empinar pipa, andar de carrinho de rolimã, brincar de pique,
queimada e andar de bicicleta.
Alguns vão dizer
que é brincadeira de menino, mas em um passado recente, não existiam essas
distinções. Até porque eu era a única menina no quarteirão da minha casa e
haviam uns 10 meninos_ e eu queria brincar.
Era permitido
brincar, brincar...sem todas os medos e pré-conceitos de hoje.
Nos dias atuais,
lá em Minas Gerais as crianças continuam brincando fora de casa, na calçada com
a supervisão dos pais, na casa de outros coleguinhas. A amizade entre as crianças é incentivada.
Hoje moro no
interior de SP, é uma tristeza só!
As pessoas têm
medo de tudo, medo até de sujar o sofá, derramar leite no chão. Sou da época
que água lava tudo. Eu sei...ela está escassa vão me dizer. Mas, economiza na
lavação do quintal.
É incrível como
as crenças e valores afetam o desenvolvimento das pessoas, por isso que é preciso
defender o brincar livre.
Brincar
contribui para o desenvolvimento da saúde mental do individuo. Os adultos também
precisam brincar, despertar a criança escondida para poder ser bons exemplos
para os filhos.
Escutei esses
dias de uma mãe que nessa região que moro, as mães têm medo de aceitar um
convite para trazer o filho para brincar na casa de alguém porque depois vão se
sentir na obrigação de ter que retribuir o convite. Que horror!
Cansei de ir ao
clube e encontrar só babás que não interagem nem com outras mães porque a
patroa não vai gostar, mas também não interagem com a criança sob sua supervisão.
Levo meu filho
em lugares que tem monitores e fico perplexa como muitos parecem robôs, não interagem,
não recebem treinamento.
E lá ficam as
crianças, cada qual no seu mundo.
Cansada de tudo
isso, meu filho precisava, precisa socializar. Não quero que suas relações
ficam limitadas ao colégio.
Daí a
inspiração, Mamãe Levada. A ideia era
abrir um espaço, uma brinquedoteca. Fiz curso de brinquedista e gestão de
espaços recreativos. Com a crise
financeira que assola nosso país, decide fazer em casa. Cobrei somente o valor
do material que seria usado e o lanche e lá vieram as crianças através dos meus
post no facebook.
Que experiência fantástica!
E a cada oportunidade de férias e recesso escolar, a minha casa foi aberta para
receber esses sorrisos, essa alegria que criança quando se sente acolhida,
cuidada oferece.
Foram várias
oficinas no decorrer deste 1 ano:
1. Oficina de pintar
com as mãos e com os pés;
2. Adote um
monstro;
3. Sensorial Dinossauros;
4. Brincar na
neve;
5. Papel Marchê;
6. Cidade de Papelão;
7. Festa dos
heróis;
8. Acerte o
alvo.
Muitas outras
lambuzeiras, contação de estórias, festival de danças, pique pega.
Nenhuma briga
entre eles, apesar da diferença de idades, porque a ideia que quis transmitir e
funcionou é que a minha casa, era como se fosse a casa daquela tia velha,
daquela avó.
Meu filho que
teve problemas com a fala quando foi para o colégio (1 ano e 10 meses), hoje
conversa, conta casos, interage, quer saber as coisas, fez novos amigos. O
pediatra que avalia ele anualmente, se impressionou com o desenvolvimento dele
na consulta essa semana.
Hoje vejo
crianças que brincaram conosco que eram tímidas, hoje estão mais sociáveis.
Teve aquelas
crianças que falaram que adoraram na avaliação final, mas que identifiquei e
marquei na minha agenda que não voltariam. Crianças (mini-adultos) acostumadas
com viagens a Disney e passeios dirigidos, que eu sabia que tiveram dificuldade
em entender a proposta pela forma de se comportar. E eu acertei na minha avaliação
porque não voltaram.
Mas, as crianças
que gostaram de brincar livre, se tornaram clientes cativadas que não perderam
uma oficina oferecida. E isso muito nos alegrou.
A medida que
elas passaram dos 7 anos, meu espaço se tornou pequeno, percebi pela procura
deste ano, só crianças entre 3 e 5 anos.
Um movimento que
aconteceu também na cidade acredito que por conta da crise, todos os colégios
ofereceram recreação este ano, as igrejas e escolas de inglês também de forma gratuita
como forma de atrair clientes/fiéis.
Muitas mamães
abriram suas casas nessas férias e receberam os coleguinhas dos filhos.
Claro que não
foi porque viram minha página, apesar de ter recebido o feedback de 3 conhecidas
que se espelharam no projeto Mamãe Levada e nessas férias abriram uma nova frente
de trabalho.
Fico muito
feliz, que o brincar esteja ganhando espaço.
Precisamos
formar crianças cidadãs, conscientes do meio que estão inseridas.
Precisamos que
nossas crianças tenham excelente saúde mental para enfrentar os desafios a sua
volta.
Precisamos que
mais mamães e papais reavaliem suas crenças.
Os movimentos
estão acontecendo nos grandes centros e precisamos abrir espaços nas cidades do
interior.
Mamãe Levada
continuará sua jornada em defesa do brincar livre.
O que mais me
decepcionou este ano foi tentar entrar para a Aliança pela Infância e alguém me
perguntou se eu era “indicada” por alguém. Logo me remeteu, quando me perguntavam
de que família eu faço parte. Era como se eu escutasse: “Qual o seu pedigree?”
Diferente das
empresas que gentilmente me patrocinaram com envio de livros e lanches. Só queriam
saber: Qual o seu projeto? Qual a causa que você defende?
O mundo precisa urgente,
de uma mudança radical de valores.
Como
profissional da saúde mental eu vou fazer a minha parte.
A psicologia positiva desenvolvida
nos anos 90, se
dedica a estudar as emoções positivas (felicidade, prazer), traços positivos do
caráter (sabedoria, criatividade, coragem, cidadania, etc.), relacionamentos
positivos (amizade, confiança, vínculos afetivos saudáveis) e as instituições
positivas (escolas, empresas e comunidades).
Ao contrário da psicologia
tradicional, que se foca no estudo e tratamento de distúrbios como a depressão
e ansiedade, o novo campo da Psicologia Positiva (Coaching) se propõe a focar
mais nas forças que nas fraquezas. Busca promover mais as qualidades do viver
do que reparar o que vai mal.
Vou continuar meu trabalho
de formiguinha, apoiando as mães através de meus atendimentos online com o
processo de Coach Kids. Também, todas as férias minha casa terá suas portas
abertas para novos sorrisos e novas oportunidades de brincar livre.
Incentivar a leitura,
incentivar o brincar, trabalhar crenças e valores foi a forma que encontrei de
ajudar meu filho e auxiliar também outros pais e mães.
E você que está lendo este
texto é convidado (a) a nos acompanhar nessa trajetória rumo a um futuro de mamães
e papais mais conscientes de seu papel.
www.facebook.com/mamaelevada
Como diz o clichê: _“Não basta
ser pai, tem que participar. ”
É verdade, nossos filhos
aprendem pelo o exemplo.
Um grande abraço!
Vivian
Ferreira = Mamãe Levada